sábado, 5 de janeiro de 2008

Viva as Manias!

Vi um filme agora em que um homem tinha mania de ir para perto da linha do trem e ficar lá observando os trens passarem. Aí, a mulher que estava com ele tentava analisar o por quê da tal mania.

Primeiro falava que podia simbolizar uma volta à infância, época em que ele sonhava em conhecer vários lugares diferentes, sair da cidadezinha onde morava. Ele disse que não era isso.

Ela seguiu dizendo que poderia ser que a força do trem, a energia gerada pelas caldeiras, a quantidade enorme de ferro se mexendo, a grandiosidade toda daquele trem... representaria a energia que ele tem ao tocar sua guitarra (ele era o melhor guitarrista da década de 30).

Ele olhou bem para ela e mandou: “parece que você quer foder com o trem”.

Por que nossas manias precisam ser analisadas e significar algo? Porque não podemos simplesmente gostar de uma coisa e pronto? Deixa o cara ficar vendo o trem passar. Sei lá, de repente ele gosta do barulho, do vento na cara. Mas não precisa saber exatamente porque gosta de fazer tal coisa.

Eu tenho uma mania há bastante tempo que é a de tirar cabelo de escova. Mas tenho que tirar todos! Não pode sobrar nenhunzinho. Começo e só saio quando a escova está limpinha. E não. Não me importo se logo em seguida alguém ou eu mesma penteio o cabelo. Encaro como um novo ciclo. Está começando de novo. O que importa para mim é terminar o que eu comecei.

Minha irmã já tentou algumas vezes me irritar assim. Mas não conseguiu e ela nunca entendeu porque eu não ficava louca da vida. Eu também não tenho a menor idéia. Logicamente, faria sentido eu me importar com alguém “sujando” de novo a escova assim que eu acabei de limpar. Mas não dou a mínima. Vai entender...

E também não sei porque tenho essa mania. Não sou daquelas pessoas que morrem de nojo de cabelo. Claro que um cabelo desconhecido, dá uma equinha, mas normalmente cabelo com identidade não me afeta muito.

O fato é que me acalma. Tirar cabelo de escova me acalma. É tipo um joguinho que vai ficando mais difícil, sabe? Vou mudando de fase. Não tem gente que só consegue largar o vídeo game quando chega na última fase? Fica lá dias e dias sem comer, sem tomar banho, vidrado na televisão. A minha “brincadeira” dura em média meia hora. (sim, já contei o tempo e fiz uma média). É mais saudável do que vídeo game. Se bem que vídeo game pode entrar na categoria de vício e não de mania.

Enfim, não há porque buscar explicações. Imagina a mulher do tal filme lá do início tentando explicar a minha mania:

- cada fio tirado representa um desafio vencido na sua vida e como você quer vencer, vai sempre até o final, em busca do triunfo.
- Não, não é isso não.
- Então, pode ser a busca do equilíbrio. É um teste inconsciente de paciência. Você mostrando a você mesma que pode ser mais tolerante e paciente na vida.
- Uau!

Psicólogos, terapeutas, psicanalistas (nunca entendi bem a diferença entre eles. Só sei que psiquiatra é o único que pode receitar remédio e o único coberto pelos planos de saúde.) deveriam também ser escritores de ficção. Esse povo tem uma imaginação incrível. Inventam relações, histórias. Mas eles têm uma fixação com a infância, não têm? Tudo é um trauma de infância, obscuro e apagado por nós. E só acharemos a cura quando lembrarmos e vencermos o tal trauma. Por isso que os tratamentos duram anos e às vezes uma vida. Tenta aí lembrar de quando tinha 2 anos de idade.

Eu tive uma psicóloga. Saí quando realmente estava ficando doida porque o dia da consulta era um martírio. Na maioria das vezes, eu não sabia o que ia dizer e ia dirigindo tensa até lá, nervosa. “O que eu vou falar hoje? Ai, meu Deus, não tenho nada para falar. Não tenho nenhum problema!”.

Chega. Quando eu estava tensa porque não tinha nenhum problema, achei que já tinha dado. Isso depois de ter inventado várias histórias, ou exagerado outras, ou até dizendo que me importei com coisas que na verdade não estava nem aí. E ainda pagava para isso!

Vou morrer tirando cabelo de escova. Não faz mal a ninguém e sei lá porque me faz um bem incrível. Viva as manias.

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