sábado, 26 de janeiro de 2008

Minha Letra

Hoje tive uma constatação que me deixou um pouco tristinha. Nada demais, mas mexeu com algo que não sei se é ego. Acho que não. Mas não estou achando outra palavra. Sempre me disseram que a minha letra era horrorosa. Do colégio, passando pela faculdade, pela minha família, pelos meus namorados, pelo meu marido, meus amigos, o pessoal do trabalho até o povo da minha recém concluída pós-graduação. Mas eu relutava. Achava que todos eles estavam exagerando. Tá, não era nenhum primor de caligrafia, mas também não era esse hieróglifo que falavam.

Vim até aqui assim, resistente, sem me entregar. E via vantagens nisso como, por exemplo, só eu entender o que eu escrevia. Podia escrever um diário na frente da minha mãe, olha só! Mas hoje, passei por uma situação que decididamente me convenceu e me fez dar graças a Deus de viver numa era em que o computador e os e-mails substituem o papel e as cartas. Se não, com certeza minha história de vida seria outra e eu nunca, nunca mesmo, conseguiria escrever tanto como estou fazendo agora. Tudo porque passei, ou melhor não passei, na prova mortal: eu não me entendi.

Ontem, com preguiça de ligar o computador, escrevi uma crônica num bloquinho. Assim, à meia luz, meio sonâmbula, torta, usando abreviações e sinais. Hoje, não consegui entender bulhufas! Nada! Só lembro do assunto, mas o desenvolvimento, o início, o meio e o fim, se perderam para sempre...

Fiquei com tanta raiva que nem me esforcei para tentar escrever tudo de novo. Usei aquela tática de “melhor assim. Se estragou é porque não estava bom”. Mas isso é historinha para boi dormir. Era bom sim. Eu me conheço. Um troço ruim não ia fazer eu ascender o abajur, pegar um bloco, uma caneta e escrever às três da madrugada.

Bom, passou. E virou outro assunto: minha letra. Minha última experiência traumática com ela, antes da de hoje, foi no Natal passado. Meu marido (ele tem aparecido bem, né? Acho que fiquei com peso na consciência de ter chamado o moço de banana na crônica do Rex.) há um tempão fala que queria ser mais próximo dos outros coelhos e coelhinhos da família dele.

Aí, tive a grande idéia de comprar cartões de natal e enviar para todos eles. Nunca tinha enviado cartão de natal para ninguém, só aqueles pequenininhos que vão presos nos presentes. E era uma coisa que mexia com o meu imaginário. Via muito em filme, ouvia falar. Enfim, me senti bem fazendo uma coisa de gente grande, de adulto!

Tomei a iniciativa e não só comprei, como catei os endereços e CEPs (atenção CEP é uma tarefa difícil. Minha sogra não tinha os CEPs. Procurei sozinha!) e escrevi mensagens de boas festas bonitinhas para cada um. Fui mostrar toda feliz para o meu marido com um sorrisão satisfeito na cara.

- O quê?
- O quê, o quê?
- O que está escrito aqui?
- É o que desejam os primos...
- Isso é ‘desejam’?
- É.
- Achei que era ‘deserto’.
- Não.
- Não dá! Não consigo entender uma palavra.

Resultado: tive que jogar 27 cartões no lixo! Faça as contas: cada um custou em média R$ 4,50, vezes 27, minha letra me causou um prejuízo de R$ 121,50.

Comprei tudo outra vez, dei para ele escrever e ele que botasse no correio. Nunca mais enviarei cartões de Natal novamente!

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