terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Porque Não

Falar ‘porque não’ é muito bom, né? Não, ‘por que não’ pergunta. Tipo alguém te oferece uma comida estranha e você pensa ‘Por que não?’, no sentido de se arriscar, inovar, viver coisas novas... Não. É o ‘porque não’ resposta mesmo. Alguém pergunta algo. Você responde. A pessoa pergunta por quê. E você simplesmente diz: ‘porque não.’

É sonoro. ‘Porque não’. Simples assim. Talvez a falta de saco que tenho com explicações possa explicar meu prazer em falar um belo ‘porque não’. Mas às vezes nem tem explicação nenhuma. Pelo contrário, nem sei direito porque não. Mas é ‘porque não’.

Um ‘porque não’ é um ‘não estou afim’ mais brando. Um ‘porque não’ tem um quê de libertador. Para falar um ‘porque não’ legítimo tem que haver uma independência aí qualquer. Todo mundo devia lembrar do seu primeiro ‘porque não’ como um marco, um rito de passagem. Não me lembro do meu primeiro, óbvio, mas lembro de uma situação que passei quando era mais nova (agora que faço parte da faixa etária adulta, bem mais nova...).

Eu tinha uma amiga esquisita que mandava em mim. Eu fazia tudo o que a garota queria. Eu só podia fazer qualquer coisa se ela quisesse. Não podia ir numa festa se ela não pudesse ir, por exemplo. Tinha que buscá-la em casa (atenção! De ônibus, que eu ainda não dirigia) antes de irmos para qualquer lugar porque ela não gostava de chegar sozinha. Tinha que comer no lugar onde ela escolhia. Já até faltei uma prova no colégio porque ela não tinha estudado (?!). Enfim, era o capacho da menina. Por quê? Nesse caso, porque sim.

Um dia combinamos de ir à praia na manhã seguinte. Mas acordei me sentindo meio mal e quando ela ligou, eu disse que não ia mais. Ela ficou puta. 1) porque não fazia nada sozinha e 2) porque ela não tinha mais amigos. Só eu era amiga dessa megera. Resultado: a bruxa ficou uma semana sem falar comigo, me dando gelo no colégio, jogando olhares raivosos. Penei para fazer ela voltar ao normal. Tive dor de barriga e tudo. (Lembra do sistema nervoso que ataca o intestino? É verdade mesmo. Já tive muita diarréia de nervoso. Ainda tenho. Que ela não me ouça, mas minha ex-psicóloga tem razão).

Sei lá por que cargas d’água, um dia acordei e decidi que não ia mais ser dominada pela Paula. O nome é verdadeiro mesmo. Faz parte da minha catarse. Paula, onde você esteja, você era má. Muito má! Bom, virei para a Paula e, bem de acordo com a idade, disse:

- Não quero mais ser sua amiga.
- Por quê?
- Porque não!

U hu! ‘Porque não’. ‘Porque não’. ‘Porque não’. ‘Porque não’. ‘Porque não’. ‘Porque não’.

Nunca mais vi a Paula. Deve ter terminado sozinha por aí. Aliás, tomara que ela tenha terminado sozinha por aí. E estou me lixando para esse negócio de que não se deve desejar mal aos outros. Desejar mal para quem foi mau com você deve poder.

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