quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Rindo à Toa

Meu pai é muito engraçado. (oh, pai! Olha você aí de novo...) Minha avó está internada no hospital (não é nada sério.) e aí minha mãe pediu para ele passar lá na casa dela, da minha avó, e trazer um livro que estava em cima da cômoda.

Acho que por não saber exatamente a diferença entre uma estante, uma mesa e uma cômoda, ele escolheu o que estava mais perto e mais visível: a estante. E não considerou o fato de ter mais de um livro nela. “Peguei o mais grosso”. Na cabeça dele, quem está num hospital tem muito tempo à toa. Então, o livro mais grosso seria mais útil.

Só eu achei realmente graça da história toda e fui cúmplice dele nas gargalhadas familiares. Minha mãe ficou lá resmungando e minha avó nem ligou. Acho que ela não estava querendo livro nenhum.

Meu pai trouxe o livro errado, claro, que ficou lá jogado. Mas chegou o dia deu dormir lá com a vovó. Ela estava há dias sem conseguir dormir por causa de umas dores e aí, foi eu chegar e ela apagar. (um Frontalzinho que eu perguntei à enfermeira se tinha, ajudou).

Bom, mas o fato é que eu não estava com sono. E mesmo se estivesse, duvido que conseguiria dormir naquele sofá estranho que chamam de cama de acompanhante. O travesseiro é um caso a parte. É de plástico. Fica escorregando da cabeça. Pedi à moça uma fronha e ela me disse que travesseiro de acompanhante não tem fronha. É de plástico porque é mais fácil de desinfetar e é uma economia para o hospital. Ia começar a argumentar, mas pensei bem e vi que não ia conseguir dormir ali mesmo. E aí, por preguiça e por princípio, me dei por vencida em questão de segundos.

Andei pelos 10m² do lugar e também só levaram segundos. Fiz xixi. Não podia ligar a televisão. A coitada da vovó demorou tanto para dormir... Também não queria sair do quarto porque me deram uma responsabilidade. Não sou boa nesse quesito. Talvez por isso, eu também não estivesse conseguindo dormir.

Minha tarefa era ficar de olho no soro para ver se ele não parava de pingar. Ela não comia e nem bebia nada desde que chegou ali e o soro era a única coisa que estava alimentando e hidratando vovó. Lembrei de umas reportagens que vi em Portugal falando que muitos velhinhos morrem lá no verão por desidratação. Velho desidrata cerca de duas vezes mais rápido do que os adultos e uma vez mais que as crianças.

Bom, à meia luz, ficar de olho num troço no alto e transparente, quem é que iria conseguir dormir? Acordada já estava sendo uma luta. Duvidava de mim várias vezes. Mexia no troço... Momentos de tensão.

Uma hora lá qualquer, olhei para o lado e estava ele ali. O livro grosso, lembra? Pois é, o livro grosso era um dicionário de expressões. Fiquei folhando, folhando e parei no ‘R’. Na expressão, ‘rindo à toa’.

Rindo à toa – estado de espírito bem-humorado; sem preocupações no momento; felicidade espontânea; alegria percebida na expressão do rosto.

E me dei conta que eu, num hospital, às duas da manhã, num silêncio absurdo, num ambiente facilmente invadido pelo tédio, com minha avó não muito bem ali na cama, sem a menor chance de conseguir dormir; e com horas e horas pela frente, estava assim: ‘rindo à toa’.

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