quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Esbarrão da Meia-Noite

Então, corro todo dia. Preciso. Me faz um bem enorme. Não só por ajudar bastante a manter as gordurinhas controladas, mas, principalmente, por me fazer pensar em certas coisas e tomar algumas decisões importantes. Casar, por exemplo, foi algo que eu decidi correndo. Nos dois sentidos. Literalmente e um pouco rápido.

Mas, enfim, estava eu agora há pouco me achando meio louca de ir correr quase à meia-noite quando esbarro com quem pelo caminho? Mau pai. Juro. Se vocês ficaram assustados, imagina eu...

- Pai!

- Ôooooiiii.

- O que você está fazendo aqui?

- Ué, o mesmo que você. Eu já perdi dez quilos. Só você que não percebe.

- Ô pai... estou feliz. Que bom que você está se esforçando de verdade.

- Esforçando?! Ô Adriana eu nado todos os dias de manhã e venho andar depois do trabalho. Não é possível que você algum dia não note a diferença. Todo mundo já viu, menos você!

Estou há um tempo tentando fazer meu pai emagrecer. O médico disse na minha cara que a situação dele estava preocupante. Aí, meti o terror. E, mesmo vendo que estava dando resultado, continuei esculachando o coitado para incentivá-lo a perder cada vez mais. Funcionou.

- Como está a coluna e o joelho?

- Tão bem. Só não posso correr e jogar bola.

- Nem um pouquinho?

- Não. Tenho medo. Foi a primeira vez que a Tatiana me viu chorar. De dor. Morro de medo de sentir aquela dor de novo. Aí, eu sonho. Sonho toda noite que estou na minha pelada. Ontem eu fiz um golaço.

- Ô pai... Você devia tentar.

- Não dá mais, minha filha. Essa casca que envolve temporariamente o meu espírito me enche os culhões! Meu espírito tem 20 anos! Sou seu pai, eu sei. Mas não dá para esquecer aquele cara de 20 anos. Você precisa ver a gente em Friburgo quando junta a turma toda. Pô, brincamos até de guerra de travesseiro! Sai cada besteira... É uma farra. Não consigo me desligar desse cara. Outro dia levei um estabaco no centro. Na frente de um monte de estudante. Aí, vieram perguntar: o Sr. quer ajuda? Ajuda é o caralho! Levantei rapidinho e fiquei tonto... Esqueço que eu tenho 58. Idade é uma merda.

(nesse momento ele dá uma topada)

- Pai!

- Ah, é normal. Vou dar outras aí na frente. Mas fica tranqüila que eu não caio não. Sabe, a minha geração foi a melhor de todas. Veio dos hippies. Foi totalmente diferente da do meu pai e da minha mãe. E da de vocês agora. Não pode fumar, não pode beber, não pode dirigir. Não pode nada. A gente podia tudo. E essa é a merda, minha filha, eu vivo achando que eu ainda posso...

E nos despedimos no ponto em que a casa dele era para a direita e a minha para a esquerda. Engraçado como eu adoro encontrar meu pai e conversar com ele como se ele não fosse meu pai. Ele é ele. E eu acho incrível como ele consegue se mostrar exatamente como ele é pra mim, a própria filha. A gente usa tantas máscaras na vida, não é? Ele não. Pelo menos, comigo não. Ele esquece tranqüilamente que é meu pai e me põe na roda. Isso por muito tempo fez com que eu quase o odiasse, mas hoje eu me sinto privilegiada. De verdade. Queria ter o conhecido quando ele tinha 20 anos...

Um comentário:

Suellen Analia disse...

Correr é muito bom!
à noite deve ser melhor ainda, já que ñ tem quase ngm pelas ruas.
caminhar ouvindo uma musiquinha boa... huuum, adoro! rs

Legal o papo que vc tem com o seu pai. Queria que o meu fosse assim, mais "solto".
ele ñ fala nada e eu, menos ainda.
tá faltando diálogo...

converso mais com vc pelo blog, do que com ele. tb, só o vejos nos finais de semana!

beijos!!!