segunda-feira, 16 de junho de 2008

A Caixa de Adriana

Preparem-se para saber mais um causo da vida de uma garota inquieta, eu.

Em um determinado momento da minha infância, lá pelos 11, 12 anos – sim, na minha época, isso ainda era considerado infância, Graças a Deus! – cismei com mitologia grega. Acho que foi porque comecei a ver algo no colégio e também porque ganhei aquele “Livro de Ouro da Mitologia”.

Bom, a questão é que fiquei encucada com a historinha da Caixa de Pandora. Para quem não sabe ou não lembra, um breve resumo:

Pandora foi a primeira mulher criada por Zeus. Uma espécie de Deus, tão sacana quanto o da Bíblia. Ele criou a tal Pandora e deu na mão dela, UMA MULHER, uma caixa, cheia de coisas, que ela não podia abrir. Óbvio que a moça abriu e fudeu com a humanidade dali em diante. Da caixa saíram a velhice, o trabalho, a doença, a loucura, a mentira e a paixão. E ficou lá no fundo a esperança. A tal última que morre...

Essa idéia de uma caixa fechada cheia de coisas meio aleatórias é que ficou na minha cabeça. Aí, um belo dia de tédio total em um fim de semana em Ibicuí - lá onde minha família tem casa, já contei -, resolvi pegar uma caixa de papelão e colocar coisas dentro. Lembro que botei uma panelinha da minha coleção, um pedaço de um pano de prato, um batom de mamãe, um papel de carta, mais alguns cacarecos e um pires que tirei da louça de vovó, escondido. E enterrei. Uma coisa meio cachorro.

Não, nunca fui lá desenterrar o negócio. Na verdade, nem lembro o local exato mais. Mas isso foi meio de propósito. Enterrei com um sentimento romanceado de que algum dia, alguém muito tempo depois, desenterraria meus segredos. Pelo que sei, eles ainda estão enterrados.

Mas por que estou falando isso tudo? Porque ontem, na capa da revista de Domingo do Globo (olha ele aí), saiu a foto de um prato que foi encontrado enterrado. Lembrei do meu pires. Do pires de vovó, perdão. E fiquei pensando algumas coisas que queria compartilhar aqui:

Por que diabos dão tanto valor a coisas que, muito provavelmente, não são nada demais? Os caras fazem um alarde imenso porque encontraram pedaços de um prato de louça portuguesa, numa escavação no Centro da Cidade. Uma relíquia do século XVII! Relíquia por quê? E se esse prato fosse algo como uma louça de dia-a-dia que uma pessoa qualquer comprou numa espécie de Casa & Vídeo das antigas? Vai que é um pires que uma criança travessa enterrou de brincadeira no quintal da avó? Enfim, qual é o valor fenomenal que há num prato? E que História toda é essa que um prato quebrado pode contar?

Fico imaginando arqueólogos importantíssimos de dois séculos a frente encontrando a minha caixa de papelão. Olha o puta trabalho que os caras vão ter para tentar montar meu quebra-cabeças! Vão perder anos e anos de pesquisas tentando achar uma lógica num batom ao lado de uma panelinha minúscula e um papel de carta. Daí, vão traçar toda a história de um povo que viveu há 200 anos.

Sei lá. Eu acho essa história de fósseis e sítios arqueológicos um trabalho muito do chutado. Neguinho sai achando e chutando um monte de significados e teorias impressionantes. Fora que cadê a relevância de saber da história do fulano, dono do prato, no século XVII? Ele podia ser qualquer um. Podia ser eu! Pena que não estarei aqui quando acharem a minha caixa...

Faltam 9 dias para o 1º jogo e 16 dias para a final.

Nenhum comentário: