sexta-feira, 21 de março de 2008

Dia Esquisito

Era para eu estar muito, muito puta. Mas sabe quando você está com fome e a fome vai aumentando, você não come, aí, fica enjoada de fome, fraca, mole, até não sentir mais nada, uma espécie assim de estado anestesiado? Então, o meu ‘estar puta’ foi tão alto no grau do intensamente puta que, no momento, estou... Estou nada. Um ser sem reação, sem atitude. Anestesiada.

Todo mundo passa por aqueles dias estranhos em que tudo dá errado. Tudo. Pois é, mas já aprendemos que eu não sou muito de pensar no coletivo. Então, não importa se acontece com todo mundo. Quando acontece comigo é comigo CACETE! E eu não tenho o tal lado recomendável de Poliana de ver o lado bom das coisas. Não há nada de bom em um dia errado.

Acordei e fiquei trancada em casa. ELE, que merecia ser chamado de tudo quanto é nome, levou a chave dele no bolso e a minha na mão. E, não. Não há uma chave reserva. Uma terceira chave que fica em casa. Se eu devia ter feito? Sim, devia. Já quase fiz, milhões de vezes. Principalmente, após ficar presa dentro de casa. (não foi a 1ª vez.).

Enfim, ELE é muito ocupado. Trabalha, não brinca de escrever historinha que nem eu. Então, precisei recorrer à mamãe, que depois de falar 500 vezes que já avisou que isso ia acontecer, que eu devia fazer outra chave, disse que viria me soltar. Ela estava vindo. Então, achei que não teria problema eu sair pela janela (moro numa casa em uma vila) e ir comprar o jornal. Só que eu deixei a bomba ligada (sim, minha casa tem um sistema pré-histórico de abastecimento de água) e mamãe demorou. Muito. E, não. Não dava para entrar pela janela. Não é alto o suficiente pra pular pra sair, mas é alto o suficiente para não dar pra entrar.

Duas horas depois, aparece ela. Não falei nada. Mas quando entrei e vi a sala alagada, resmunguei até dizer chega. Mamãe não pôde ajudar a secar. Tinha hora no salão. Não sou boa com vassouras, rodos e afins. Parecia que quanto mais eu tentava enxugar, mas eu espalhava água. Até molhar um pacote que estava no chão. O pacote? O pacote continha todos os meus novos cartões. Abri desesperada o embrulho e coloquei-os para secar lá fora. Puta, retornei pra continuar enxugando gelo.

Quando voltei lá fora, os cartões haviam voado para a vizinha. Toquei na casa ao lado. Expliquei e pedi pra entrar e tentar recuperá-los. Consegui alguns de volta. Quando voltei, adivinha? A porra da porta tinha batido e a chave de mamãe estava dentro! CARALHO. CARALHO. CARALHO.

Toquei na vizinha de novo. Pedi para dar um telefonema.

- Tudo bem, minha filha?
- Não. Mas eu não quero falar, se não vou chorar.

E vi a cara dela de quem pensa: “sempre achei essa menina estranha...”.

Liguei para o celular. Ele não atende números desconhecidos. Liguei para o escritório. A secretária atende.

- Pois não?
- Quero falar com o ...
- Quem deseja?
- Adriana.
- Adriana de onde?
- SÓ ADRIANA!

Quando ele atendeu, chorei no telefone. Não consegui segurar. ELE do outro lado não entendeu muita coisa diante do meu desespero atropelado contando tudo ao mesmo tempo. Disse que já estava terminando e iria pra casa. Não quis ficar na casa da vizinha. Fiquei sentada do lado de fora da porta da minha casa de 15h às 19h. Sem jornal. Ficou do lado de dentro também.

ELE chegou. Eu havia pensado em milhões de palavrões pra falar quando ele chegasse, diante da demora do rapaz. Ensaiei. Mudei as falas. Ensaiei de novo. Mas aí, entrei no tal estado do nada. Anestesiada. Ele veio andando calmamente, me olhou ali suja, com roupa de lavar o chão, o cabelo preso meio torto... E disse apenas:

- Por que você não chamou o chaveiro?

CARALHO! POR QUE EU NÃO CHAMEI O CHAVEIRO?????????

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