sábado, 1 de março de 2008

Carro

- Onde está a chave reserva do seu carro?
- Por quê?
- Porque eu quero mostrar aqui para alguém.
- Alguém quem?
- Um cara aqui da vila.
- Para quê?
- Onde você está, Adriana?
- Na academia.
- Por que você leva a chave do carro para a academia?
- Para que você quer a chave reserva do meu carro?
- Porque eu quero vender!

Sabia! Era o que eu temia. Mulher precisa renovar o guarda-roupa de ano em ano. Talvez, em menos tempo. Homem tem que trocar de carro. E o meu marido é um homem ao quadrado, nesse caso. Ele não precisa apenas trocar o carro dele, ele troca o meu também. Sei lá, o cara enjoa, dá coceira, não sei o que acontece. Já falei aqui de manias. Cada um com a sua, não me incomodo. Mas quando a mania do outro ultrapassa fronteiras, aí a coisa muda de figura.

Desde que a gente está junto, é assim. Estamos casados há três anos. Já tive três carros e ele também. (O carro tem prazo de validade, lembra? Dois anos é o limite). Ele quer testar outros modelos, outras cores, sei lá que porcaria ele quer testar. Só sei que em um momento o carro é sensacional, econômico, bonito, blá blá blá e, um tempo depois, é uma bosta.

Agora, o mais bizarro disso tudo é que nesse tipo de mania, eu devia ficar ao lado dele. Não sou eu que enjôo de tudo, que quero provar tudo, que adoro coisas novas? Pois é. Pela lógica, eu deveria adorar mudar de carro. Mas quem disse que eu tenho lógica? Não tenho. Nenhuma. E odeio ficar trocando de carro toda hora.

Me apego, acontece sempre. E o pior é que começo sem gostar muito do novo veículo. Torço o nariz, fico lembrando do último, passo meses reclamando. Aí, de repente, começo a olhar para o meu carrinho com outros olhos e vou deixando ele com a minha cara. Esse tem uma vaquinha de pelúcia, tem alguns Cds com histórias, tem meu cheiro. Meio narcisista isso, não? Mas tem. Meu carro tem meu cheiro, tem a minha cara. É a minha casa. É isso, meu carro é a minha cabaninha. Sabe, quando a gente é criança e adora brincar de cabaninha? É meu carro. Ali, eu fico sozinha, escuto o que eu quero, canto alto, falo pelos cotovelos (sozinha! Que odeio dar carona, já disse.), me sinto segura e protegida.

Adoro mudar de casa, quase nunca me apego ao lugar onde eu moro. Mas odeio mudar de carro. Vai entender...

Minha relação com esse carro de agora começou pior do que as outras. A gente não tinha absolutamente nada a ver um com o outro. Não fui com a cara dele na hora. De cara, porque me tiraram um prazer que para mim faz todo o sentido na hora de dirigir: a embreagem. Existe toda uma dancinha com os pés que complementam o ato de dirigir em si. Esse carro não tem o terceiro pedal. Demorei um tempo para me acostumar (saía dando freadas bruscas por aí, já que achava o freio quando ia pisar na embreagem) e muito mais tempo para parar de reclamar. Mas parei.

E comecei a gostar de ficar mais alta. E aprendi um jeito de fazer ele arrancar, mesmo sem embreagem, conheci outras maneiras de se usar o freio de mão, coloquei a vaquinha... Bom, hoje gosto dele. E estou triste mais uma vez porque ele vai embora. Mais ou menos quando uma babá é demitida ou quando um cachorrinho morre. ‘Por que eu me apaguei de novo?’

É isso. Deixo aqui um adeus saudoso.

Um comentário:

Unknown disse...

tchau, little bagel...