segunda-feira, 5 de maio de 2008

Mulher Néon

Eu e ele, voltando domingo à noite da Barra. Trânsito. A gente tinha voltado de viagem antes de ir a Barra, à casa dos pais dele. Estávamos cansados. Ele dirigia agora. Ou seja, foi me dando um tédio, um sono... Aí, puxei um assunto para não dormir.

- Como seria a nossa vida se a gente não tivesse se conhecido?
- A minha, bem melhor. A sua, bem pior.
- Desenvolva.
- Melhor não.
- Vai. Pode ir.
- Não precisa. Está implícito.
- Mas quero ouvir historinhas.
- A gente vai brigar.
- Não vai não. Juro. E é melhor brigar que ficar entediada. Vai.
- Tá. Você ia continuar dando adoidado por aí, ia ter passado uma temp...
- Pera lá! Você é meu marido! Não pode falar que eu ia estar ‘dando’. Que feio, amor.
- Mas é verdade, ué. Posso continuar?
- Hã?
- Ia ter passado uma temporada em Nova York. Ia voltar de lá mais doida ainda. Se bobear, nem ia voltar. No mínimo, ia para outra cidade cheia de gente louca que nem você. Não ia ter casado com ninguém ainda. Provavelmente, não ia casar. Ia ver e falar com a sua família de dois em dois anos. E por telefone.

- Isso seria bem pior? Bom, quer ouvir a sua?
- Não.

- Você ia ter namorado uma loirinha de olho azul durante anos. Muito educada. Teria orgulho de apresentá-la a toda a sua família. Ela ia ter feito psicologia na faculdade. Seu dom era compreender as pessoas. Sempre conquistou a todos desde nova com seu jeito doce e meigo de ser. Prestativa. Serena. Só se vestiria em tons pastéis. O casamento de vocês seria planejado com dois anos de antecedência e o vestido dela teria mangas bufantes de princesa. Ela fala baixo. Quase ninguém escuta. Seus movimentos são lentos e delicados e ela estaria todos os dias te esperando em casa de banho tomado, cheirando a lavanda e com a mesa posta para a comida que ela havia cozinhado pra você. Vocês teriam o primeiro filho já no início do casamento. E depois desse, viriam mais dois. Todos homens. Um tédio.

- ....
- E aí?
- E aí, o quê?
- O que achou?
- Sedutora a idéia. Uma vida tranqüila. Uma mulher normal e quieta.
- Era isso mesmo que você queria? Jura?
- Talvez.
- Ah não. Diz que não, vai. Por favor. Eu te admiro tanto...
- Não, Adriana. Claro que não. Se não, eu não teria casado com você. Mas um meio termo entre você e a loirinha aí, eu até que queria.
- Mentira! Você adora a sua vida comigo. Diz de novo, vai. Diz que eu não sou dessas apagadinhas.
- Você? Você tem até Néon piscando na fachada.

Adorei!

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