sexta-feira, 30 de maio de 2008

Dercy Gonçalves

Eu sabia que a Lua, minha cachorra, estava bem passada já. Afinal, ela é um Pastor Alemão de 12 anos e cheia de vontades. Mas fazia aquela conta clássica de multiplicar por 7 e aí, achar o equivalente em idade humana. Ou seja, 12 x 7 = 84. Lua, na minha cabeça, já era uma sobrevivente! Uma guerreira. Lutadora. Estava ótima. Velhinha, mas anda, enxerga, come, e faz xixi e cocô onde tem que fazer.

Bom, mas descobri hoje no veterinário que Lua não é uma senhora de 84, é uma gagá de 94! É. Para raças grandes, a tal contagem do ‘x 7’, não vale. Raças grandes ganham mais anos de vida! Meu Deus, minha cachorra é uma Dercy Gonçalves! Uma Tônia Carrero. Qualquer uma dessas velhas caquéticas do século passado que esqueceram de morrer.

Tem um livro do Saramago, não é esse que virou filme: “Ensaio sobre a Cegueira”, que fala de uma epidemia (se bem que Saramago é meio repetitivo, hein. Usou a idéia de epidemia surreal em dois livros...) bom, uma epidemia que faz com que as pessoas parem de morrer. “As Intermitências da Morte!”, colei! Dercy e Tônia são personagens do livro do Saramago.

Voltando a Lua, fiquei preocupada. Estou uma espécie de mala em relação à saúde de meus entes queridos. Já estava no pé do meu pai e, agora, estou na pata da Lua (que, por sinal, não tem mais a força de antigamente). Enchi a bichinha de vacinas, comprei uma penca de remédios e vou levá-la lá de novo pra fazer uma porrada de exames.

Lua ficou irritadíssima comigo. Não comeu, quando coloquei a ração. Não veio, quando eu chamei e não sai lá do canto dela. Está de mal.

Meu pai também. Não atende mais as minhas ligações porque fala que agora eu só tenho um assunto: perguntar o que ele comeu. Além de e-mails e recados em casa e no trabalho para que ele não esqueça o exame tal, marcado para tal horário. Ele ficou uma arara ontem, quando deixei recado com a secretária e disse que era urgente porque o exame era daqui a vinte minutos e ele ainda estava lá. A moça entrou na sala de reuniões e falou para todos ouvirem:

- Dr. Pedro, sua filha está no telefone, lembrando que o Sr. tem exame de intestino.

Fui eu que falei assim ‘exame de intestino’. O troço tem um nome complicadíssimo e aí, simplifiquei. Ela resolveu seguir a minha linha light. Ele não gostou.

Que saco... Será que eu vou ser uma mãe daquelas ultra chatas e pentelhas? Será que meus filhos vão me achar uma mala sem alça? Mas é que eu amo muito, sabe? E meu modo de cuidar é meio prático. Não tenho muito jeito com a coisa. Me perdoem, meus amores.

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