sábado, 17 de maio de 2008

Levando Papai ao Médico

Após muitos anos de vida e de muitas idas ao pediatra, eis que o mundo dá voltas e, agora, sou eu quem leva papai ao médico. Que nem criança e com tudo o que isso significa incluído: não querer acordar para ir, dizer que não precisa, que já está bom, com aquele medinho que a gente tem de ir ao médico, sabe? Mas arranquei o marmanjo da cama e levei pelos cabelos. (se bem que cabelos ali... não tem muito mais não.)

No caminho, fomos mudos. Eu até tentava puxar algum assunto, mas o moço não colaborava. Estava de birra, mostrando sua revolta contra mim. Nem liguei. Chegamos. Subimos. Na hora de entrar no consultório, ele me olhou como quem não crê que eu realmente iria levar aquilo tudo até o fim e chegaria ao cúmulo de entrar com ele. Pois cheguei. Queria ouvir tudo com os meus próprios ouvidos. Escaldada, não caio mais nessa de que todos os exames dele estão ótimos e que o médico deu até Parabéns. Não. Esse eu ia ver de perto.

Bom, ele não recebeu parabéns. Ele não está nada bem. E ele está fazendo tudo errado, claro. Tomou bronca. Ouviu recomendações. Ficou assustado. Perguntou um montão de coisas e levou bem mais não do que sim, dentro da categoria do que podia e não podia comer e beber.

Na volta, ele falou mais. Parou na farmácia e tudo para comprar o remédio recomendado. Prometeu que ia se cuidar. Vamos ver. Eu estou com os dois pés atrás, mas vou dar um voto de confiança. Acredito nele.

Nem tentei ser engraçadinha aqui hoje e o que está escrito aqui, muito provavelmente, não interessa a ninguém. Mas interessa muito a mim. Estava, estou, realmente preocupada com papai. E senti mesmo que eu precisava cuidar dele. O cara é rebelde, faz o que quer na maioria das vezes, é totalmente desregrado, sem saco, sem paciência e tal, mas, sempre me ouviu. Aliás, só a mim. Não é à toa que até hoje, há quase quatro anos que não moro na casa dos meus pais, minha irmã e minha mãe vivem me chamando para apagar incêndios e controlar a fera. E é verdade mesmo. Ele só pára, só dá o braço a torcer, só volta, quando eu peço, mando, grito, choro, o que for necessário.

Isso é meio chato, às vezes? É. Dá trabalho? Dá. Mas eu sinto um orgulho danado também. Meu pai, do alto de seus 56 anos (acho que é isso...), me respeita. Muito. E, no fundo, é grato. Ele sabe que é um perigo para ele mesmo. E que eu estou sempre ali, marcando em cima. No último jogo do Fluminense, quando o infeliz do Renato Gaúcho colocou o Roger para marcar o Adriano, que tem o triplo do tamanho dele, deu-se o seguinte diálogo lá em casa:

(Meu pai puto com o desenrolar do jogo)
(Minha mãe): - O que é Pedro Luiz?
(Meu pai): - O Roger tá marcando o Adriano. PQP!
- O que é que tem?
- É que nem colocar você ou a Taty para me marcar, Stella? Não dá. É óbvio que não dá. O Renato tinha que colocar uma Adriana pro Adriano!

Não sei se eu reproduzi direito, na hora saiu mais engraçado e a comparação ficou mais redondinha. Mas foi mais ou menos isso. Pro meu pai, que é um senhor Adriano no campo da vida, só uma Adriana...

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