sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Perdoa-me por me Amares

Antes de tudo, peço licença a Nelson Rodrigues por me utilizar em parte de um título criado por ele. E, mais ainda, por ter a audácia de modificá-lo. Não tenho a menor pretensão – quer dizer, pretensão eu até tenho, não tenho é talento mesmo – de chegar aos pés de Nelson. Até as unhas já estaria de bom tamanho. Nelson Rodrigues foi um dos primeiros grandes autores que conheci. Falo no sentido de obra. De querer devorar mais e mais livros escritos por aquela mesma pessoa. E eu nem faço esse estilo: mulher de um escritor só. Ou de qualquer coisa só. Mas o que posso dizer? De novo parafraseando o mestre: como ‘toda unanimidade é burra’, vez ou outra, escorrego e me encanto por algo ou alguém específico. Nelson foi e é uma das ou - arrisco dizer - a minha grande paixão literária.

Feitas as devidas homenagens, quero falar de amor. Até que ponto somos responsáveis pelo amor que alguém sente por nós? Eu diria que muito. Dã, podem pensar. Mas não é tão óbvio assim. Tirando a atração física e por características pessoais, há muito mais a ser conquistado em alguém para aquela pessoa de fato morrer de amores pela nossa humilde – nem sempre – pessoa.

E essa conquista não é fácil. Às vezes, é dificílima. Leva anos. E põe anos nisso. A coisa toda pode começar como uma simples brincadeira ou virar um desafio bobo, quando certas dificuldades vão surgindo pelo caminho. Mas a partir do momento em que a insistência passa a ser freqüente, pode apostar que aquilo ali está virando alguma coisa. Talvez fogo de palha. Paixonite. Mas aí, a coisa vai se repetindo. De tempos em tempos. E vira caso. Mal resolvido, na maioria das vezes. E quando finalmente esse caso, após anos a fio, esquenta, a chance de se transformar em amor é imensa. Pensa só: é algo que resistiu ao tempo. É algo que não conheceu a rotina. É algo que foi alimentado milimetricamente por, pelo menos, uma das partes. É algo planejado. Como qualquer namoro que se transforma em compromisso e, em última instância, em casamento. É amor.

E amor merece e necessita de cuidado, de atenção, de carinho. Somos totalmente responsáveis pelos carinhos, pela atenção e pelo amor sincero distribuídos por aí. Fora aquelas mulheres um pouco estranhas do MADA – Mulheres que amam demais – (apesar deu não concordar com essa sigla...), ninguém ama se não é excessivamente bem tratado. Não estou falando de dar casa, comida e roupa lavada. Estou falando de se dar no sentido mais amplo do verbo dar. E olha que se tem um verbo amplo, é o dar.

Por isso, se alguém te ama, você fez por merecer. E é aí que eu quero chegar. Essa frase ‘você fez por merecer’ não está associada a castigo? Se fudeu? Ah, mas ele fez por merecer... O que está no cerne do ‘Perdoa-me por me Traíres’ é isso: ela ou ele fez por merecer ser traída ou traído. Somos totalmente responsáveis por nossos amores. E nem sempre eles têm final feliz. Perdoa-me por me Amares.

Ps: estou filosofando sobre a vida e o amor. Não falo sempre necessariamente de mim, antes que comecem as perguntas escabrosas.

3 comentários:

Suellen Analia disse...

Oi!
Gostei muito, mas muito mesmo do que escreveu.

Mesmo assim, continuo achando que tem muita gente por aí que ñ merece o carinho e a atenção de alguns. Até mesmo o amor.
Mas, em contrapartida, por exemplo, vc sabendo, querendo ou ñ, vc fez por merecer que eu pudesse estar aqui agora, como costumo fazer sempre, gastando um pouquinho do meu tempo lendo seus posts.

O estranho é que a gente nem nota essas coisas.
Elas passam despercebidas...

Beijos, Dri.
bom final de semana.

Adriana disse...

tem sim. mas o que eu quis dizer é q essas pessoas q não merecem nossos carinhos em algum momento, ainda q tardio, serão deixadas de lado por nós. amor, amor mesmo, só se sustenta quando quem dá e quem recebe merece essa troca. passamos a vida nos apaixonando loucamente, mas passa. a coisa só pára quando encontra motivo pra parar. se não é assim com todo mundo, na minha opinião, deveria ser.

beijocas! e muito obrigada por passar aqui sempre e pelos elogios sinceros.
dri

Suellen Analia disse...

pois é.
tem gente que acha que o amor se sustenta sozinho. é como se o amor fosse um ser autotrófico.

mas deixa, vai. o "legal" é qnd a pessoa só se dá conta disso qnd perdeu.

ñ precisa agradecer, Dri.

um beijão.