quarta-feira, 2 de abril de 2008

Maracanã

Sabe quando você volta a um lugar que você não ia há muito tempo? Assim, um lugar que fez parte do seu passado. O colégio onde se estudou, por exemplo. Acho que todo mundo já passou por essa experiência: você volta já adulta, por algum motivo qualquer, ao pátio onde passou inúmeros recreios na infância e acha o lugar incrivelmente menor do que a lembrança que você tinha guardado dele.

A primeira vez que voltei ao meu colégio, fiquei infinitamente decepcionada. Me arrependi de ter destruído a memória de um espaço enorme onde corri, pulei elástico, amarelinha, brinquei de polícia e ladrão, pega-pega, pique-esconde... Aquilo era um mundo! Sempre voltávamos para a aula suados de tanto correr. E quando adentrei as portas enormes do lugar (já não tão enormes assim, mas ainda havia esperança) me deparei com um local apertado em comparação à imaginação.

Mas o meu ponto hoje é: isso não acontece com o Maracanã. O estádio da minha infância continua incrivelmente enorme e com todas as suas lembranças gigantes iguaizinhas. O Maraca não me decepciona. Nunca. Nem quando meu time perde. Imagina, então, quando ele ganha! E imagina, então, quando ele ganha e eu estou lá ao lado do cara que me levava pela mão. Minha mão cresceu. Mas a do meu pai continua enorme. Que nem quando só dava para agarrar um dedo dele.

O Maracanã não faz parte só do meu passado. Continua no presente. Mas a mão do meu pai faz parte do passado. Desde que ele foi perdendo o saco de ir e eu fui indo só, com as minhas próprias pernas. Mas hoje ele foi. E foi de arquibancada. E ficou no meio da Legião Tricolor. E chorou.

De emoção, de alegria, de saudade, de felicidade, de tristeza, de orgulho. Só tinha eu e ele. Quer dizer, havia sei lá quantas mil pessoas, mas só tinha eu e ele.

E pulou. Gritou. Abraçou estranhos. Falou com gente do lado, gente de trás, gente da frente. E eu que sempre grito, xingo, pulo, abraço, fiquei ali quase imóvel, extasiada. Olhando. Olhando aquele cara no contexto dele. Olhando aquele cara enorme fora da função que eu conheço e nasci inserida. Fora da função pai e suas conseqüências e responsabilidades. Ele era ele. Ele, mesmo comigo do lado, esqueceu quem era devido a minha existência, entre outras coisas. Confuso? Vou tentar explicar: conheço meu pai enquanto meu pai, certo? Mas meu pai já era ele, antes de mim. E é mais ele quando não precisa lembrar que eu e toda uma vida que eu represento existe.

Ele no Maracanã hoje voltou ao antigo colégio. Mais que isso. Voltou ao antigo colégio, na época em que o lugar era enorme e todos corriam e brincavam num espaço imenso, sem limites visíveis. Com toda uma vida pela frente.

Eu não queria fazer barulho. Fiquei quietinha, tentando ser invisível. Não queria que nada me tirasse o prazer de ver meu pai no recreio.

Há pouco tempo, falei para alguém que eu adoro, que futebol aproximava pais e filhos. Hoje eu vivi isso na pele. E desejo para todos os pais e filhos e filhas do mundo. Do fundo do meu coração tricolor.

Cantinho do Fluminense

Para deixar placar e comentários registrados. Ganhamos! Não foi assim excelente, mas ganhamos bem. O goleiro paraguaio estranho continuava lá. Mas, desta vez, não deu para ouvir as coisas esquisitas que ele gritava porque eu estava longe, na arquibancada. E Washington está querendo perder seu posto de ídolo. Estava uma porcaria de novo. Dodô voltou a treinar, hein Washington... Se cuida.

Data do jogo :: 02.04.2008 :: 21h45
Local :: Maracanã (eu e Pedrinho na arquibancada)
Campeonato :: Libertadores
Placar :: 2 x 0 (Flu x Libertad)
Extras :: Papai. Meu grande extra!

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