domingo, 20 de abril de 2008

Apenas Português

Comentei ontem sobre o dialeto do meu sogro e aí, resolvi falar mais a fundo sobre isso. Hoje em dia posso dizer ‘é apenas português’. Mas quando comecei a namorar meu respectivo, filho de portugueses, para mim o pai dele falava grego, russo, alemão, qualquer idioma que eu não entendia patavina.

Lembrei de momentos difíceis há pouquíssimo tempo ao ver uma amiga, que acaba de entrar para a família, passando pela mesma situação. Eu podia ter tirado ela de lá. Podia ter entrado na conversa e ajudado a menina. Podia até voltar a atenção do meu sogro para mim e deixá-la descansar. Mas nananinanão. Deixei a moça na fogueira. Taquei mais lenha e fiquei lá, assistindo de camarote, às gargalhadas por dentro. Estava quase em êxtase.

Por que é que o ser humano é assim, né? Sádico. Com sede de vingança. Sua mãe colocou seu nome de Filomena? Põe Josefina na sua filha, mesmo que ela não tenha nada a ver com isso. E, no futuro, teremos uma Creusa.

Não me chamo Filomena, mas passei anos sendo chamada de Renata (sempre me chamam de Renata quando é para errar meu nome...) pelo meu querido sogro, que hoje me adora, verdade seja dita, e já me chama de Andrea, bem mais perto e compreensível de se confundir.

Bom, eu, Renata, fui jantar pela primeira vez na casa dos pais do meu namorado de 1 ano já. Tive a sorte incrível de começar a namorá-lo assim que os pais voltaram para passar um período longo em Portugal.

Nos cumprimentos já não entendi bulhufas, só que ele havia me chamado de Renata (Renata era a ex, tá? Só para explicar.) Mas isso não era nada perto da tortura que estava prestes a ser iniciada.

Olho no olho. Ele não tirava o olho de mim enquanto falava e eu ia tentando pescar alguma coisa. Qualquer coisa. Ele não parava de falar. Cada vez mais vinho, cada vez mais rápido. Não bebi nada. Quase não comi. Minha concentração era toda ali, tentando entender uma palavra e torcendo para meus movimentos afirmativos e risadinhas ocasionais serem compatíveis com seja lá que diabos ele estava falando. E o medo de uma pergunta ser feita e eu responder com uma risadinha? E se eu não percebesse que era uma pergunta?

Cadê a perna dele para eu chutar? Já foi em casa de português? A mesa é diretamente proporcional à quantidade de comida servida. Ou seja, enorme! Nem se eu tivesse a perna mais comprida do mundo. E acha que havia tempo de desviar para uma olhada fulminante e um pedido visual desesperado de ajuda? Não.

Pescoço tenso. Pernas balançando freneticamente de nervoso. Olhos arregalados, sem piscar. Sons e mais sons misturados, tentando se conectar com alguma coisa. Mas minha placa mãe deu pau.

Uma risada sonora e alta do resto da mesa indicou o momento de gargalhar também e foi o fim do castigo. Só por aquele dia. E foi apenas a primeira vez. Depois vieram várias. Com o tempo, fui pegando prática. Hoje sou expert em pegar três palavras soltas de uma frase e criar um contexto. Na maioria das vezes, funciona. Afinal, é apenas português.

Boa sorte, Veri. Você ainda tem uma grande busca pela frente...

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