quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Renata

Ainda na aba de histórias que aconteceram há muito tempo. Vamos a outra, que meu dia-a-dia não tem rendido muito assunto...

Lembrei de uma história que hoje em dia acho engraçada, mas foi motivo de angústia durante alguns meses. Exorcizemos a história, então:

Uns cinco anos atrás, eu freqüentava uma academia no Rio Sul. Era uma dessas academias super equipadas, coloridas, com ar-condicionado, música nas alturas e mulheres com roupas combinando com o elástico do cabelo. Eu era meio peixe fora d’água ali, mas tentava seguir meu singelo programa de exercícios sem ser importunada.

Quem freqüenta ou já freqüentou academias desse tipo, deve saber o quanto é impossível fazer qualquer coisa sem ser observado ou importunado. Para muitas pessoas isso é “ser sociável”, para mim é um pé no saco.

Tudo colabora para o importuno. Veja a posição das bicicletas: elas são estrategicamente quase coladas. É um incentivo claro ao importuno. E não é por falta de espaço. A minha academia, por exemplo, era gigante, cheia de vãos entre uma seção e outra.

Ok. Até aqui, a culpa é toda minha. Se não gosto do ambiente, o que eu fazia lá? Fazia o que muitos burros como eu, fazem. Chegam empolgados para se matricular e caem no papo da recepcionista de fazer um plano semestral. “É bem mais barato!”, diz a mocinha sorridente. Taí, o barato que sai caro, caríssimo!

No primeiro mês, as pistas da besteira que você fez já são claras. Mas é dose. São seis meses que já estão pagos! E com o dinheiro do papai, que nessa época eu era devidamente sustentada (nada mudou muito, na verdade. Só mudei de patrocinador). Bom, freqüentei a academia até onde deu. Durante quatro meses. Mas tive um motivo nobre para sair. E é disso que se trata a minha tal história.

Um belo dia, estou eu na minha bicicleta lá do fundão, a mais escondida, quando uma loira boazuda passa e me reconhece:

- Renata!

Levei um tempo para lembrar de onde eu conhecia aquela pessoa. O nome eu não lembrei de jeito nenhum. Mas descobri de onde. Ela era gerente de uma loja em que eu trabalhei nas férias da faculdade para ganhar uma graninha pro carnaval. Mas o tempo que eu levei para chegar até aí foi mais do que suficiente para ela chegar no nível 3 do ‘ser sociável’.

Como eu não cheguei nem no nível 1, me limitava a escutar e a balançar a cabeça e a sobrancelha. Um óculos escuros naquele momento seria providencial. Enfim, decidi não perder meu tempo explicando, àquela altura do campeonato, que não, meu nome não era Renata. Fui embora Renata e feliz por ter acabado antes dela e não sairmos juntas batendo papo. Uns três dias depois, a vejo de novo:

- Oi, Renatinha. E aí?

Virei Renatinha, num sotaque genuinamente carioca do nível 3 também. Enquanto minha sobrancelha estava arregalada, a moça já falava pelos cotovelos. Perguntou se eu lembrava da Fulana, da Ciclana, da Beltrana... Falei que sim, lembrava de todo mundo... Me contou o que ‘as meninas’ andavam fazendo. Fulana é supervisora da Fórum. Ciclana, gerente da Oh Boy!. Beltrana ainda era vendedora na Triton. Depois, minha ex-gerente gostosona passou para a vida da nata do circuito comercial do Rio Sul. O dono sei lá de que estava saindo com a gerente sei lá de onde. Interessantíssimo. Mas aí, veio o pior:

- E você, Renatinha, onde está?

Era esse o momento de dizer que eu não me chamava Renata e que eu nunca mais trabalhei em loja na minha vida? Achei que não. Ia criar uma polêmica, seria pior. Assumi a personalidade de Renatinha.

- Fui para loja de rua. Em Ipanema, uma de objetos de decoração.

Lembrei de uma amiga que trabalhava nesse lugar.

- Qual é o nome?

Fudeu! Eu não lembrava. Inventei uma desculpa qualquer depois de olhar o relógio e saí fugida. A partir de então, começou a minha angústia. Ia para a academia com medo de encontrá-la. De dizer algo errado. Eu não havia memorizado todas as mentiras que eu tinha contado. E o pior! E se alguém, algum professor, me chamasse de Adriana na frente dela? Eu diria o quê? Que o meu nome era Renata Adriana? Acho que não...

Minha estada na academia virou realmente um troço curioso. Eu ia meio disfarçada, aderi ao boné, olhava sempre para baixo, ou então para todos os lados que nem uma drogada em paranóia. Gelava quando via alguém parecida. (loiras boazudas numa academia super equipada é que nem gente de branco no reveillon...)

Bom, tinha que acabar com aquela tortura. Cogitei explicar a história para o meu pai, já que eu ia jogar o dinheiro dele no lixo. Mas desisti. Passei mais dois meses saindo de casa à noite, vestida para malhar! Passei muitas horas conversando com meus porteiros, lendo na pracinha e passeando no Rio Sul gastando mais dinheiro de papai.

E, amém!, nunca mais vi A CAROL! Acabei de lembrar o nome dela. CAROL.

Carol, preciso te contar: meu nome é Adriana.

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