Uns bons anos depois e morando e malhando bem pior, hoje me aconteceu mais uma na academia. Essa minha mania de não querer falar com as pessoas só me mete em confusão. Ou seja, eu me meto em situações inacreditáveis e, juro, nem sei como a coisa vai ficando tão ruim. Quando vejo já estou inserida num beco sem saída, complicadíssimo, que só me atrasa a vida.
Vamos ao meu mico de hoje. Estava eu lá fazendo bicicleta, (já reparou que estou sempre fazendo bicicleta? É o que eu mais gosto mesmo. Isso ou correr. Mas correr prefiro ao ar livre. Bicicleta também, aliás. Mas, sei lá, em academia, prefiro fazer bicicleta do que correr na esteira). Bom, estava lá, lendo meu jornal atrasado quando, de repente, pelo espelho vejo de relance uma fisionomia conhecida de anos atrás. Gelei na hora. Mulher tem dessas coisas. Quando está apaixonada, treme. Quando fica nervosa, tem diarréia. Quando fica sem graça, fica vermelha... Bom, fiquei nervosa e graças a Deus só gelei e não caguei.
Meu mundo parou. Agora me explica: por quê, meu Senhor? Tá, o cara até já foi importante na minha vida. Paixonite de anos do colégio e tal. Mas, vamos combinar que já passou há muito tempo e que, depois dele, tiveram vários. Não era para tanto. Só que até eu chegar a essa conclusão, eu já tinha abaixado a cabeça e não conseguia olhar para a frente de novo nem por um decreto. Medo mortal dele me ver. Medo mortal dele me ver daquela maneira, vulgo camisa de político, calça leg de uma cor estranha, tênis furado e suor pingando.
Levantei só um pouquinho. Ai, meu Deus, quase que cruza o olhar! Gelei mais uma vez. A sensação é de uma espécie de pressão baixa com a desvantagem que nesse caso você não apaga. Fiquei vidrada no jornal sem quase me mover. Só as perninhas faziam o percurso dos pedais, cada vez mais rápido, como se fosse possível sair correndo dali numa bicicleta ergométrica.
Geralmente faço 50 minutos de bike. (para usar o linguajar apropriado para academias). Quando vi o rapaz, eu estava no 42. Os oito minutos finais já tinham passado há tempos e nada deu conseguir sair dali. Estava ficando cansada de verdade e emagrecendo o triplo, se levarmos em consideração a teoria de que nervosismo emagrece. Nervosismo + bicicleta deve ser uma bomba e tanto para emagrecer.
Ele não saia da secretaria, por onde é obrigatório passar para ir embora. Eu estava presa, encurralada (palavra feia essa, não? Encurralada. Parece cu ralado). E não agüentava mais fazer bicicleta. Parei. Mas não saí dela. Continuei lendo o jornal que eu já havia lido todo. Só passando o olho pelas letrinhas. Minha cabeça estava lá na 5ª série, quando eu, pela 3ª ou 4ª vez, tentei de novo beijar o menino que se encontrava agora a 10 metros de mim. Fui a vergonha das minhas amigas. Naquela época, mulher ainda não chegava em homem. Eu chegava. E tomava toco.
Cadê aquela coragem adolescente? Afinal, só consegui dobrar o rapaz na 6ª tentativa. (é, estão pensando o quê? Não desisto fácil assim não. Questão de honra). Pois é, mas hoje parecia uma menininha assustada. Não vou falar o nome aqui desta vez porque... porque sei lá. Porque estou travada. Estou falando que bateu um medo sinistro... Fulano aí foi meu primeiro caso tricolor de verdade. Não sei se eu fiquei mais feliz por ter dobrado o moço ou por ter apresentado um legítimo torcedor do fluminense a papai.
Bom, voltei à Terra. Coloquei o jornal aberto estrategicamente na minha frente e fui! Passei a roleta voando, quase sem respirar. Na rua, já segura o bastante, me bateu o arrependimento. Que boba. Podia ter falado com ele. Lembrar de coisas legais que, muito provavelmente, eu não me lembro mais. Saber como ele está e tal. Fugi. Que nem criança. E perdi a chance de falar com você, Eduardo Milson. Beijo, Edu.
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