domingo, 10 de fevereiro de 2008

Eu e meu Jornaleiro

Não acredito em horóscopo de jornal. Acho que ninguém, né... Bom, mas o de ontem (que eu li hoje) veio muito bem a calhar. Reproduzindo:

CAPRICÓRNIO: Não gaste sua energia em embates tolos. Você não precisa provar sua inteligência, seu valor e sua competência para ninguém. Você sabe do que é capaz. Saia do transe, relaxe e siga em frente.

Ok. Seguirei escrevendo, então. E o assunto ainda é jornal. Compro jornal todos os dias na mesma banca, de um velhinho alcoólatra. Não tenho assinatura porque moro em vila. O entregador não pode entrar, já tentaram dar a chave do portão para ele e não deu certo, blá blá blá.

Voltando ao meu jornaleiro... Não sei muito bem porque, mas estabelecemos algum tipo de relação duradoura, que não é baseada em palavras. Aliás, não faço a menor idéia no que a nossa relação é baseada. Mas há fidelidade. Das duas partes. Ele sempre guarda o Globo para mim, seja lá qual for a hora que vou aparecer, já que não sou muito de horários e não tenho essa coisa de ter que ler jornal de manhã ou para cagar. Enfim, ele sabe que eu vou.

Cansei de comprar o mesmo jornal duas vezes. Não eu. Mas é que de vez em quando, meu marido compra e chega em casa com ele. Mesmo assim, eu vou lá e compro de novo. São R$ 2,00 fiéis a cada dia. Não tem jeito. E também vale comprar o de ontem no dia seguinte (que nem eu fiz hoje...). Aliás, quem me conhece sabe que eu sou mestre em ler jornal atrasado. Não estou nem aí. Na praia, na rua, na fazenda ou numa casinha de sapê, não me importo com quem está vendo que estou lendo jornal às vezes até da semana passada. Tenho meu próprio tempo.

Quando eu viajo, tenho que avisar a ele. Já fiz darmos a volta no quarteirão para parar na banca do Seu sei lá quem (não sei qual é o nome dele, nem ele sabe o meu) para avisar que eu não ia aparecer durante x dias, mas que ele guardasse para mim. E ele sempre guarda.

Acho que só tenho uma relação fiel assim, ou parecida, com os caras da barraca do fluminense, onde eu fico em frente na praia. Também só alugo cadeira com eles. E, só vou à praia ali.

Estranho, né? Vivo divulgando por aí que eu não gosto de quem depende de mim, que tenho coceira de gente grudenta, que não sou muito sociável, enfim, vivo tagarelando a favor da minha independência, mas nutro uma sensação sincera por esses laços de lealdade. Também não sei os nomes dos caras da barraca do fluminense. Talvez, eu goste de laços sem intimidade. Sei lá.

Bom, os caras da barraca nem tanto, mas sinto um carinho sincero pelo meu jornaleiro anônimo. E enrolei isso tudo aí em cima para contar do nosso primeiro diálogo produtivo. Até hoje, o máximo que eu tinha escutado dele eram uns resmungos e sempre a mesma pergunta: ‘quer bolsa?’, acompanhada sempre também da mesma resposta: ‘não’.

Eis que hoje, ele me dá o jornal e fala: ‘Feliz Natal’. Fiquei um tempo olhando, tentando entender, tentando pensar, checando em que mês estávamos mesmo, procurando uma outra data comemorativa com a qual ele pudesse ter se confundido... Não achei nada disso. Hoje é dia 09 de fevereiro e a próxima comemoração é a Páscoa. E está longe, hein...

- Para o Sr. também.

Achei melhor simplificar. Fica tão mais fácil assim. Feliz Natal, Sr. Jornaleiro.

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