terça-feira, 7 de outubro de 2008

Pedras Portuguesas

Tenho praticado muito o desapego. É um exercício diário e forçado. Sou chata. Falei isso já, né? Mas engana-se quem pensou que minha chatice se resume a ser meio travada. Não. Minha chatice abrange temas como: chata com quem usa as minhas coisas, chata com quem tira as minhas coisas do lugar, chata com quem come as minhas coisas... chata com qualquer coisa que envolva as minhas coisas. E esse ‘minhas’ não necessariamente é tão ‘minhas’ assim. Deveria ser de todos. Mas eu não vejo assim. Desde muito nova, quando minha luta era só com Tatiana Maia.

Pois bem. Morar sozinha acostuma mal o ser humano. Um ser humano com tendências egoístas então... Sou esse aí. Tenho muita pré-disposição ao egoísmo e prezo bastante a privacidade. Nunca morei sozinha, sozinha. Mas morar com o meu marido é quase isso já que o cara é quase um escravo dos Senhores Feudais Portugueses. Desde que o conheço ele trabalha de domingo a domingo, salvo raríssimas exceções e nem estou falando de feriados, natal e ano novo. Esses são os dias em que mais se trabalha, aliás. E quando ele chegava em casa, não tinha força para mexer nas minhas coisas. Quem sempre mexeu e decidiu tudo fui eu. Nunca declarei, mas sou totalmente a favor da ditadura dentro de casa.

Agora, cada dia é uma surpresa. Cadê o pão preto que estava aqui? O João comeu. Cadê o João? Está procurando o chocolate. Cadê o chocolate? O Miguel comeu. Cadê o Miguel? Está monopolizando a TV...

Tá. Ainda gosto deles. E eles são muito menos intrusos do que parecem na minha descrição simpática. A chata sou eu mesmo. E é por isso que comecei dizendo que estou praticando o desapego. Acho que vai ser bom para mim. Até para o futuro. Se dois marmanjos me cutucam, imagina crianças!? Como farei para adestrar meus filhos?

Mas enquanto não encontro a cura da chatice, encaro meus novos moradores como pedras no meu caminho.

No meio do caminha tinha uma pedra. Tinha uma pedra no meio do caminho. No meu caminho, são pedras, assim no plural. E portuguesas!

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