sábado, 22 de agosto de 2009

Quero ser Martha Medeiros, Fernanda Young, Adriana Falcão...

Era uma vez... uma menina normal. Meio bicho do mato, nem CDF, nem burra, que não sentava lá atrás, nem na primeira carteira no colégio. Ficava no meio. Não colava, mas dava cola. Afinal, era preciso ter amigos mais descolados. Passava em matemática, raspava em física e química e se dava bem melhor em português e redação. Com tanto que não fosse 'tema livre'.

Não era de ficar em casa abraçada aos livros, mas também nunca chegou a ser convidada para todas as festinhas. Era amiga da loira de cabelão na cintura, mas só namorou um menino do grupo dos mais cobiçados uma vez. Durou pouco. Foi trocada por outra loira, de cabelo no ombro, mas de olho verde! Ainda são amigas. Ela não era muito vingativa. Naquela época...

Nunca gostou muito de chamar a atenção. Ainda não gosta. Prefere seu cantinho ao centro do pátio. Por uma crueldade dos pais, era sempre a primeira da lista das chamadas, das provas orais, da fila para a entrada no ônibus da excursão. Era sempre a primeira ou a última. Talvez, essa seja uma pequena pista do que no futuro se tornaria uma opção: nada de meio termo. Equilíbrio é para os fracos. Ou dá ou desce.

Deu muito. Nem começou cedo. Estava emparelhada com as loiras. Mas não era de recusar oportunidades. Entre quantidade e qualidade, fazia um mix das duas coisas e saía ganhando. Apesar de nunca ter recebido flores em plena sala de aula, guarda até hoje uma coleção de cartinhas apaixonadas. Nem bonita, nem feia, com o tempo foi melhorando e teve tempo pra se dedicar a se tornar interessante. Coisa não muito levada em consideração antes, mas apreciada a partir de uma certa idade. Lá para depois dos 20. Foi a época que deu mais. Sem arrependimentos. Nenhunzinho sequer. O que também foi se tornando uma bandeira. Mas não chegava a concordar totalmente com a frase manjada que diz que é melhor se arrepender do que fez do que do que não fez. Deixou de fazer muita coisa por desconfiar de um futuro arrependimento. Mas o que tá feito, tava feito.

O colégio passou e veio a faculdade. Jornalismo. Por quê? Nada muito concreto. Apenas gostava de português, de escrever. Mas escrevia pouco. Lia razoavelmente. Foi deixando passar. Não se apaixonou pela profissão. Correu das redações. Até chegar à televisão. Nos bastidores, ainda considerando seu lado mais reservado. Gostou. Passou a escrever mais. Nada demais. Um trabalho que ora pareceria trabalho, ora parecia levar de volta aos 20 anos. Ficou. Foi ficando.

Aí, descobriu que seu punho direito tava bichado. "Tendinite. Mas não é daquela mais comum. Você teve problema num tendão super raro de acontecer". Aconteceu com ela. Só com operação. E, ainda assim, resolveu mais ou menos. Um remendo pra disfarçar um defeito de fábrica. Continuou escrevendo nem demais, nem de menos. Coisa de um tema só, de interesse duvidoso. Mas divertido. Foi pagando as contas.

Quatro anos depois, o outro. A porra do punho esquerdo deu xabú. Travou. Pior que o primeiro. "Foi sobrecarregado. Você devia ter tomado cuidado". Não tomou. Na vida, de um modo geral. Não surfou em trens, mas curtiu um viver perigosamente. Pensar sempre veio um pouco depois do indicado. Indicado pra quem? Ela viveu bem assim. No regretments. De novo.

E, de novo, entrou na faca. Dois remendos. Uma colcha de retalhos aos 28 anos. Em busca de um mosaico. Uma coisa assim artística, contemporânea. Construída.

E aí, no momento mais improvável, com o braço esquerdo ainda engessado, decidiu: quero ser escritora. É isso! Escrever demais virou fácil. Simples. Prazeroso. Largou o trabalho. Largou experiências mal sucedidas, largou do medo, largou de preguiça. Só não largou o marido. E engravidou. Tava na hora...

Está na hora. De uma nova fase de vida. Quero ser Martha, Fernanda, Adriana.

4 comentários:

Patricia Fonseca disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Patricia Fonseca disse...

Se depender dessa cronica deliciosamente escrita/construída e de todas as outras suas que eu li , lembra de quando voce ver eu me dirigir em camera lenta (olha ela aí! rs)pra te pedir meu autógrafo, lembra que meu Patricia não tem acento e possivelmente nem assento terei, porque aquilo lá vai bombar , amiga! Beijos e sorte!
ps: esse 1º comentário excluído foi "lourísse" minha!"Prefiro não comentar" ...rsrsrsrs
Patricia

isafontes disse...

Boa sorte, mas escreve em portugues ta?


"No regretments." ta totalmente errado.

Adriana disse...

combinado. Me perdôa. Prometo que se um dia quiser alçar vôos mais distantes, contrato um tradutor!

obrigada pela visitinha anyway. ops...