Ainda da série do coração já que o assunto foi bem aceito e comentado. Ontem falei da mania ou burrice que às vezes nos assola e faz com que tentemos desesperadamente forçar a barra. Principalmente as mulheres que em um determinado momento perto dos 30 saem fazendo mesmo qualquer negócio. Bom, hoje vou falar de uma situação um pouco inversa. De quando a gente, por motivos legítimos como defesa, se engana e finge que já esqueceu alguém.
Todo mundo já teve pelo menos uma grande paixão na vida. Se não teve, acha que teve. E quando tiver, vai ver como a coisa é realmente muito maior do que se imaginava. Mas nem sempre essas paixões avassaladoras são possíveis. Aliás, muitas vezes não são. Por ‘n’ mil motivos. Dentre eles, incompatibilidade de gênios – amar não basta -; incompatibilidade de momentos na vida – amar não basta -; falta de coragem – amar não basta -; incompatibilidade de estado civil – amar não basta -; e mais um monte de outras incompatibilidades que só reforçam o fato de que o amor, ou a paixão, não é tudo. Não sustenta. Não enche barriga. E não gosta da rotina.
Mas o fato da cabeça ter tomado uma decisão, muito sensata até, não faz com que o coração acate essa escolha. E aí, é uma luta quase eterna entre um e outro. Quando a cabeça vence ou parece que vence, a importância da coisa vai mesmo diminuindo com o tempo e a esperança é que um dia suma. Trata-se de uma espécie de autodefesa muito útil para se continuar levando a vida. Caso contrário, seríamos um monte de infelizes a se lamentar o tempo todo.
As lembranças vão vindo com cada vez menos freqüência e rapidamente se consegue voltar ao que se estava fazendo antes. O máximo que o passado apaixonado ganha é um cúmplice suspiro. Um ar conformado e, no fundo, aliviado por aquele incômodo sentimento estar te deixando pouco a pouco. O problema é que a gente se apega. Se apega a filhote de cachorro, imagina a um sentimento que foi capaz de abalar as estruturas!
O segredo é saber lidar com esse corpo mole que pode ameaçar a paz conquistada. Não vou colocar aqui uma receita pra isso porque cada um deve descobrir a sua. Eu gosto muito das coisas naturais. Como eu sou meio esquecida e desligada mesmo, sempre deixei o fluxo da minha memória me ajudar a não me tocar da falta que alguém pode fazer. Insisto que isso não é fácil e que nem sempre fui bem-sucedida. Mas de outra forma não funciona. Comigo.
Mas vamos ser justos com os apaixonados e lembrar que nem sempre depende só deles. Uma variável determinante nesse caso chama-se destino. Se ele ajudar e colocar as duas partes em caminhos que não se cruzam, ótimo. Mas, se, por acaso, cruzar, as chances de se ‘defender’ diminuem consideravelmente. Eu até hoje só consegui esquecer gente de duas maneiras: ou porque me apaixonei por outro ou porque deixei de ver o sujeito at all.
Esse negócio de que se há de ser forte e assim você vai conseguir superar a dor é tudo balela. Quem é o sangue de barata que supera alguma coisa dando de cara com o objeto de sofrimento todos os dias? Gente, ninguém. A força aí só serve para tomar uma atitude do tipo mudar de emprego, sair do curso de inglês ou dar um tempo no mesmo grupo de amigos. Mas até chegar a esse ponto a pessoa precisa ter ido até o seu limite porque todo mundo sabe que no fundo, no fundo, a gente não quer coisa nenhuma ficar longe de quem se ama.
Bom, está na hora de acabar. Como deixei um conselho ontem – não force a barra -, deixo um conselho hoje - muito cuidado com a auto-enganação. Achar que esqueceu alguém está a léguas de distância de realmente ter esquecido. Então, se a idéia é realmente ficar cada um no seu quadrado, não atice o coração. Ele precisa de muito pouco para voltar à tona. E quando volta é mais ou menos como aquela primeira respirada quando se está debaixo d’água e, enfim, chega-se à superfície. Força total. Quase uma sobrevida. Um renascimento triunfante. E lembre-se de que quem achou que estava morto e, de repente, se descobre vivo, tem muito mais vontade de viver.
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