domingo, 14 de setembro de 2008

Prática x Teoria

- Amor!
(...)
- Amor!
- Que é?
- Você ainda está dormindo?
- Tô, tô dormindo. O que é?
- Eu queria que você levasse a Paula na pracinha.
- Ah não. Por quê?
- Pôxa, porque eu trabalhei a semana inteira e você não.
- Ah...
- Sua mãe ligou. Por que você não perguntou o que ela ia fazer e chamou para vir para cá ficar com a Paula?
- Ah...
- Pôxa, amor, fica um pouco com ela, custa?
- Eu também tô cansado.
- Caramba. Ela também é sua filha.
- Eu sei.
- Às vezes parece que não. Custa? Está cheio de crianças lá.
- Ah...
- Eu não acredito que você não vai.

- Oi? Ei!
- Oi.
- Tudo bem?
- A hã.
- Eu posso ir à pracinha. Não me importo. Posso levar a Paula.
- Como você chama mesmo?
- Adriana. A gente não foi apresentada. Sou sua nova vizinha aqui de cima.
- Você também tem filhos? Nunca escutei barulho de criança.
- Não. Só tenho dois cachorros.
- Você vai levá-los na pracinha? Acho que não pode.
- Não.
- Vai sozinha?
- Não, com a Paula, a sua filha.
- Por quê?
- Porque eu não estou fazendo nada e não me importo.

- Paula!
- Que é, mamãe?
- Tá vendo aquela tia ali em cima na janela?
- Oi.
- Oi, Paula, tudo bem?
- A hã.
- Ela quer levar você na pracinha. Você quer ir com ela?
(...)
- Eu te empurro altão no balanço.
- Tá.

E assim consegui acabar com uma discussão que estava me dando nos nervos, debaixo da minha janela. É impressionante como morar em prédio, ainda mais um pequeno e antigo, faz você literalmente entrar na vida dos outros. O título é Prática X Teoria porque, ao contrário da busca da paz interior que só funciona na teoria, eu nunca imaginei que fosse possível minha ida à pracinha com a pequena Paula na prática.

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