quinta-feira, 10 de setembro de 2009

O assunto ainda é 'velho'

Então, o assunto 'velhos' continua permeando meu humilde universo. Pra quem não tá update aqui, há pouco tempo uma confusão com o fato deu ter chamado minha avó de velha normal me deu dor de cabeça. Já passou. E a velha tá ótima.

Mas, eis que ontem, sou pega de surpresa por uma conversa, no mínimo, inusita com outra velha: uma vizinha.

- Ai, você tá ótima!
- Brigada, D. Mercedes. (aliás, ôh nome bom pra vizinha né, não? D. Mercedes. Perfeito.)
- Tá de quanto tempo?
- Quase oito meses.
- Nossa! Que bom. Fico aliviada.
- Oi?
- É. Ai, menina, não suporto gente gorda.

Sutil como um elefante, a simpática velhinha não? Que ela não me ouça a comparando com o bichão...

Bom, velhos são realmente uma espécie à parte dos mortais pra mim. Acho que eles - mais que as crianças até, de quem, de certa forma, já esperamos coisas malucas -, tem o dom de nos surpreender. Nem sempre positivamente, é verdade. Mas vale à pena o risco. Já me diverti inúmeras vezes com uma espécie de 'tô de altos da vida', que muitos deles assumem como conduta. É como se soubessem que estão no final, numa fase em que voltam a ser café com leite.

Há os que se intregam, se deprimem ou, não por culpa deles, adoecem e não conseguem curtir esses acréscimos do terceiro tempo. Mas há muitos - e tomara que seja a maioria! - que aproveitam e conseguem marcar golaços, garantindo a posteridade.

Minha avó com certeza é desse time vencedor, cheio de garra. Aos 80 anos, ela está prontinha pra cuidar do bisneto; caminha na orla duas vezes por semana; sabe o nome de todos os personagens de todas as novelas; se diverte tentando acessar a internet; não se conforma com a TV de plasma que fizeram ela comprar, mas que insiste em deixar as atrizes da Globo todas gordas; e fica felíssima com o poder que a mesada da vovó exerce sobre os netos. Numa atitude mais do que madura, ela chuta pra escanteio chatices de que só seria amada pelo dinheiro e faz bom proveito das regalias que uma vovó nada mão de vaca pode ter.

Não sei como é Dona Mercedes na vida, mas ela me parece falar o que dá na telha. Ou seja, deve render outras tiradas ótimas, que eu gostaria muitíssimo de ouvir.

E, por fim, me lembrei agora da avó de uma amiga minha que inventou que estava ficando surda para só atender a chamados quando estivesse afim. Atenção porque a coisa foi sofisticadíssima com direito ao médico de cúmplice. Ela conseguiu convencer o doutor de que já tava muito... velha para aturar encheção de saco e que tinha tido uma ideia ótima, mas que precisava dele para embasar cientificamente a grande sacada. Ele topou. E assinou o laudo. Foram mais fundo: combinaram uma observação devidamente redigida, dizendo que aparelhos de surdez não adiantariam no caso dela. A velha astuta já morreu e não me lembro exatamente quando seu plano perfeito foi descoberto. Mas não é sensacional?! Desde que escutei essa história, guardo comigo, com uma vontade grande de imitar a esperta senhora quando chegar a minha vez de aproveitar o fim da vida.

Bom, é isso. Um brinde aos velhos e velhas por aí. Pelo menos, aos sábios.

Um comentário:

Amanda Hora disse...

Desconfio que meu pai planeja fazer o mesmo. Lembra de uma personagem, a velha surda? Então, bem parecida com ele. Já teve tiradas ótimas também, assim que lembrar de alguma te conto. rs Mas, normalmente, irrita muito. Só depois é engraçado.