terça-feira, 22 de setembro de 2009

"500 Dias com Ela"

Sigo com comentários sobre filmes do Festival do Rio:

Hoje foi a vez de conferir "500 Dias com Ela", uma comédia indie fofa com a atriz que fez a namorada do Jim Carrey em "Sim, Sr.". Linda. E um linda normal, atingível. Por isso, mais linda ainda. Bom, tô parecendo meio lésbica e nem é da beleza de Zooey Deschanel que quero falar.

Quero falar sobre se apaixonar. E sobre de como a gente esquece como é isso. Antes que alguém pense que estou em crise amorosa, não é isso. Estou bem-casada, bem-resolvida, feliz com a ideia de começar uma família com um pimpolho na barriga e sem neuras quanto ao que me espera no futuro ao lado do mesmo cara. Mas...

Mas quando a gente se depara com uma história interessante que faz com que aquilo bata não só como um filme, mas como uma experiência de sentidos, é inevitável se pegar lembrando, pensando, buscando histórias parecidas que aconteceram ou poderiam acontecer com a gente.

No meu caso, fiquei mais no poderiam ter acontecido. Claro que já me apaixonei. Mas eu era tão novinha que além de não lembrar exatamente como foi, hoje minhas lembranças pareceram meio bobocas e infantis. Afinal, eu era mesmo uma estudante do ensino médio e coisas como meu objeto de paixão sentar na carteira ao lado da minha já era um grande sinal e assunto para uma semana de recreio.

O que me deixou com gosto de quero mais vendo o filme foi uma paixão em idade mais avançada. Onde as coisas, pensamentos, diálogos, atitudes, reações me pareceram bem mais interessantes com minha cabeça atual. Claro que como todo casal apaixonado, ou solitário que curte uma paixão não muito correspondida, as reações, diálogos e atitudes às vezes pareciam sair da boca e de alguém do ensino médio. Mas é que com 20 e poucos anos os pensamentos e as consequências podem ser muito mais interessantes do que com 13, 14. E era isso que me instigava o tempo todo.

Não sou a favor de trocar uma vida estável e feliz por uma aventura em que muito provavelmente não vai dar em nada. Principalmente, quando você está muito mais apaixonada por seu objeto de paixão do que ele por você. Taí um risco que não vale à pena correr. Mas o que me deixou vidrada na tela é como quando o negócio é forte mesmo, você esquece o risco e a sensatez. É isso que a gente esquece como é. Ou que muita gente nem chegou a sentir.

A pessoa ou a paixão pela pessoa te toma tanto o tempo, a cabeça, a vida que você simplesmente nem tem a opção de ponderar se aquilo vale à pena ser encarado. É cego mesmo. O que me leva a uma reflexão: o amor não é cego coisíssima nenhuma. Quando você ama, sabe muito bem de todos os defeitos da pessoa amada, mas escolhe permanecer com ela. Tem dias bons e ruins, mas ainda assim, não questiona se ama ou não. Tem coisas no outro que você gostaria de mudar, mas engole por causa das outras coisas que ele tem de bom. Não gostaria de ouvir e ver certas coisas, mas releva porque na hora de dormir, acaba olhando pra ele e percebendo mais uma vez que seu lugar é ali. Enfim, não que você saiba exatamente porquê ama aquele indíviduo, mas sabe que ama e ponto. É suficiente, claro e forte o bastante para te manter ali, por escolha.

Agora a paixão, sim, é cega. Você não enxerga nenhum defeito, ou não liga mesmo pra eles, chegando a achá-los engraçadinhos. Não dá chance para a realidade e caga para as pessoas que você possa machucar. Paciência, o que você está sentindo não é controlável. Como se a culpa não fosse sua. É instintivo, animal. Você não enxerga nem o pior: que você vai quebrar a cara. No momento da paixão mesmo, você não tá nem aí. Um momento, um dia, uma noite, um fim de semana ao lado daquela pessoa que você simplesmente venera vale mais do que todo um futuro detonado adiante. Quem era tímido, fica corajoso. Quem era contido, fala barbaridades. Quem era apagado, do nada passa a sorrir. Quem era preguiçoso, ganha um gás invejável.

Normalmente dura muito pouco, é verdade. Mas ainda assim, quando você lembra que existe, quando você escuta a história de alguém, quando vê um filme... a vontade de também viver aquilo de novo ou pela primeira vez gruda na cabeça por um tempo. Não dá para evitar.

2 comentários:

Anônimo disse...

Não vi o filme, mas vou te falar!
Teu texto caiu como uma luva em mim. Há poucos dias pedi o divórcio ao meu marido, iria deixá-lo depois de 19 anos de casamento e dois filhos adolescentes. E por que? Por causa de palavras lindas de um poeta. Detalhe, não o conheci pessoalmente, apenas pela internet, e ignorei todos os problemas que poderia ter e ele tem muitos, pois precisa de psiquiatra a cada três meses. Cega pela paixão, idealizei o homem! Felizmente meu marido me impediu , não aceitou o divórcio e me convenceu a envelhecer ao lado dele. Loucura?! Sim, demais.

Adriana disse...

o mais legal de escrever em ambiente livre na internet é volta e meia se dar conta q vc é realmente lido por aí. mais interessante ainda é qdo. vê q fez alguém refletir sobre algo, sendo essa ou não a intenção ao escrever aquilo.
fiquei feliz pela coragem do seu marido. nem sempre os homens põem a coragem frente ao orgulho.

bons anos de velhice futura!

bjs,